Movimento social
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Apesar do movimento social ser fruto de determinados contextos
históricos e sociais, duas definições conceituais clássicas podem ser
encontradas no objetivo de acrescer à questão. A primeira delas é a de
controle de ação histórica de Alain Touraine, ou seja, para ele, os movimentos sociais são a ação conflitante dos agentes das classes sociais (luta de classes). Já para Manuel Castells,
movimentos sociais são sistemas de práticas sociais contraditórias de
acordo com a ordem social urbana/rural, cuja natureza é a de transformar
a estrutura do sistema, seja através de ações revolucionárias ou não,
numa correlação classista e em última instância, o poder estatal.
Segundo Scherer-Warren, pode-se, portanto, concluir que a sociedade civil é a representação de vários níveis de como os interesses e os valores da cidadania
se organizam em cada sociedade para encaminhamento de suas ações em
prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações
simbólicas e pressões políticas. Num primeiro nível, encontramos o associativismo
local, como as associações civis, os movimentos comunitários e sujeitos
sociais envolvidos com causas sociais ou culturais do cotidiano, ou
voltados a essas bases, como são algumas Organizações Não-Governamentais
(ONGs), o terceiro setor. Para citar apenas alguns exemplos dessas organizações localizadas: núcleos dos movimentos de sem-terra, sem-teto,
piqueteiros, empreendimentos solidários, associações de bairro, etc. As
organizações locais também vêm buscando se organizar nacionalmente e,
na medida do possível, participar de redes transnacionais de movimentos (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Catadores de Lixo, Movimento Indígena, Movimento Negro, etc.), ou através de articulações inter-organizacionais.
Observa-se que as mobilizações na esfera pública
são fruto da articulação de atores dos movimentos sociais localizados,
das ONGs, dos fóruns e redes de redes, mas buscam transcendê-los por
meio de grandes manifestações na praça pública, incluindo a participação
de simpatizantes, com a finalidade de produzir visibilidade através da mídia
e efeitos simbólicos para os próprios manifestantes (no sentido
político-pedagógico) e para a sociedade em geral, como uma forma de
pressão política das mais expressivas no espaço público contemporâneo. Alguns exemplos ilustram essa forma de organização, incluindo vários setores de participantes: a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, de Goiânia a Brasília (maio de 2005), foi organizada por articulações de base como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excluídos e o próprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina.
A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada ano, desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-se através de redes nacionais, como a LGBTT, de grupos locais e simpatizantes. A Marcha da Reforma Urbana,
em Brasília (outubro de 2005), resultou não só da articulação de
organizações de base urbana (Sem Teto e outras), mas também de uma
integração mais ampla com a Plataforma Brasileira de Ação Global contra a Pobreza. A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizações civis de todos os continentes. A Marcha vinculada à III Cúpula dos Povos, em Mar Del Plata
(novembro de 2005), “foi convocada pela Aliança Social Continental, por
estudantes, trabalhadores, artistas, líderes religiosos, representantes
das populações indígenas e das mulheres, juristas, defensores dos
direitos humanos, parte desse movimento plural, que, pela terceira vez,
celebra o encontro, após os realizados em Santiago do Chile (1998) e Québec (2001)” A Marcha Zumbi + 10 desmembrou-se em duas manifestações em Brasília (uma em 16 e outra em 22 de novembro de 2005), expressando a diversidade de posturas quanto à autonomia em relação ao Estado.
Em outras palavras, o Movimento Social, em sentido mais amplo, se constitui em torno de uma identidade
ou identificação, da definição de adversários ou opositores e de um
projeto ou programa, num contínuo processo em construção e resulta das
múltiplas articulações acima mencionadas. A idéia de rede de movimento
social é, portanto, um conceito de referência que busca apreender o
porvir ou o rumo das ações de movimento, transcendendo as experiências
empíricas, concretas, datadas, localizadas dos sujeitos/atores
coletivos.
Do ponto de vista organizacional, inclui várias redes de redes, como por exemplo, desde a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), criada em 1996, até as organizações das comunidades locais “mocambos”, “quilombos”,
“comunidades negras rurais” e “terras de preto”, que são várias
expressões de uma mesma herança cultural e social, e ONGs e associações
que se identificam com a causa. Do ponto de vista da ação
movimentalista, apresenta as várias dimensões definidoras de um
movimento social (identidade, adversário e projeto): unem-se pela força de uma identidade étnica (negra) e de classe (camponeses pobres) – a identidade; para combater o legado colonialista, o racismo
e a expropriação – o adversário; na luta pela manutenção de um
território que vive sob constante ameaça de invasão, ou seja, pelo
direito à terra comunitária herdada – o projeto. Nesse momento, unem-se
também ao Movimento Nacional pela Reforma Agrária na luta pela terra, mas mantendo sua especificidade, isto é, pela legalização da posse das terras coletivas.
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